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SOBRE MIM

Olá, me chamo Amanda Bairros, sou psicóloga e psicanalista e gostaria de iniciar esse texto com uma reflexão sobre como a vida é imprevisível. Cursar Psicologia não parecia algo tão complexo e transformador para a Amanda de 18 anos de idade, que passou a vida estudando em escolas municipais e estaduais e havia recém saído da casa dos pais para ir morar sozinha em outra cidade. Porém, não demorou muito para perceber a complexidade e a responsabilidade do mundo onde estava se inserindo. Logo nos primeiros semestres percebi que havia oportunidades para além das disciplinas e estágios obrigatórios e, curiosa como sou, fui me inscrevendo e participando de diferentes projetos.

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Tive a oportunidade de ser bolsista de um projeto de extensão em uma instituição filantrópica responsável pelos cuidados de crianças e adolescentes com idades entre zero e 12 anos, em situação de acolhimento institucional. O objetivo do projeto era colaborar para o bem estar geral da instituição através de diferentes atividades grupais. Como bolsista, participei ativamente do grupo composto por meninas de oito a doze anos. No segundo ano, minhas atividades se ampliaram. Passei a participar também do grupo quinzenal que ocorre com a equipe técnica e os cuidadores. Com as várias experiências que a participação no projeto me proporcionou, fui atravessada por sentimentos que me trouxeram grandes aprendizados. Entre eles, percebi a importância de lidar com a frustração de uma atividade não ter saído da forma como havia planejado, pois afinal, a expectativa era minha. Com os estudos que fazíamos durante as supervisões, me dediquei a aprender como ocorrem os processos de acolhimento, desacolhimento, adoção e como os serviços da rede de apoio se articulam. Na prática, pude observar como o trabalho é desenvolvido pela equipe. O contato com as crianças foi fundamental para que hoje eu tenha uma escuta mais sensível e um olhar mais humanizado. Por meio do projeto, também tive a oportunidade de elaborar e apresentar trabalhos científicos em diferentes universidades da região. Assim se passaram dois anos de amadurecimento profissional e pessoal, onde acompanhei histórias tão complexas e diferentes da minha.

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Outra oportunidade foi realizar estágio extracurricular no Programa Primeira Infância Melhor (PIM), que se constitui como uma política pública do estado do Rio Grande do Sul cujo objetivo é acompanhar o desenvolvimento de gestantes e crianças de zero a seis anos que residem em áreas da cidade consideradas vulneráveis. Através de visitas semanais às residências das famílias atendidas, realizava atividades com foco em quatro dimensões: motricidade, cognitivo, sócio-afetivo e linguagem. Ao longo desta prática, me deparei com situações muito complexas, onde foi preciso um olhar sensível e uma atuação interdisciplinar. Tive ainda a oportunidade de vivenciar os modos de trabalho em rede que tanto estudei durante a graduação e o projeto citado anteriormente, tendo contato com os mais variados serviços que a integram. Pude compreender o quão importante são os diferentes olhares de uma equipe multidisciplinar e o quão ricos em aprendizado estes contatos podem vir a ser.

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Já durante os Estágios Curriculares I e II pude conhecer e fazer parte do cotidiano do Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência (CAPSIA), sendo essa outra experiência incrível. Novamente tive contato com a interdisciplinaridade, constatando sua importância também na saúde mental. Participei de grupos terapêuticos, oficinas, discussões de casos com outros serviços, atendi pacientes em psicoterapia individual, fiz acolhimentos e em cada espaço pude aprender um pouco mais sobre o funcionamento dos serviços e o fazer de cada profissional. Além de me apropriar da rotina do serviço, desacomodei minhas certezas diante de tantas situações singulares.

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Já no último ano de graduação, diante das possibilidades de Estágio Curricular III e IV, refleti sobre o caminho que eu havia seguido até aquele momento. Percebi então que havia uma lacuna entre os espaços que já havia percorrido enquanto acadêmica de Psicologia. Adentrei a atenção básica, a rede de assistência social e educação através do PIM; pude observar como ocorre o processo de acolhimento, destituição familiar, desacolhimento e adoção; o CAPSIA me mostrou como o percurso do trabalho em saúde mental é complexo e diário.

 

Então, quase com os pés fora da faculdade, fui selecionada para vestir um jaleco branco e atuar juntamente ao Setor Integrado de Atenção Psicossocial (SIAP) do Hospital Santa Cruz (HSC). Em 16 horas semanais, durante um ano, aprendi a me localizar entre os longos corredores que antes me pareciam labirintos, diminuí meu tom de voz para garantir o sigilo das informações que circulavam entre leitos, na maioria das vezes tão próximos, e pude acolher as angústias vivenciadas pelos pacientes, seus familiares e os profissionais da instituição. Descobri um lugar novo, cheio de histórias e trabalho a ser feito. Um ambiente que precisa de ouvidos e de afeto para além dos procedimentos de rotina.

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Essas experiências que, em minhas reflexões, se constroem e se complementam, resultaram no meu interesse em estudar gênero, raça e políticas públicas, então também atuei como bolsista voluntária do Programa UNISC de Iniciação Científica (PUIC) no Projeto de Pesquisa: Educação, biopolítica e produção de subjetividades (não)raciais no Brasil, coordenado pelo Profº Drº Mozart Linhares da Silva. Experiência que suscitou na escolha do meu tema de TCC, que se constituiu em uma análise sobre as políticas públicas de saúde voltadas para as mulheres negras, resultando também em um prêmio de Jovem Pesquisador com publicação em uma revista. Acredito muito na importância da escrita como ferramenta de mudança, então esta conquista é um grande orgulho para mim.

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A minha curiosidade por psicanálise esteve presente em todas essas experiências. A universidade onde estudei, tem como proposta um curso de psicologia que oportunize o contato do aluno com as diferentes abordagens da área. Por esse motivo, tive contato com diferentes professores, abordagens e manejos. Para mim foi muito positivo, já que entrei na faculdade sem ter o conhecimento dessas diferenças e assim pude observar com qual delas eu teria transferência. Logo nos primeiros semestres, as disciplinas que envolviam psicanálise despertavam mais meu interesse, bem como os professores. Eu tinha vontade de estar perto, conhecê-los e ouvi-los falar. Ao mesmo tempo em que achava complexo, ficava instigada.

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Em maio de 2020, já formada em Psicologia e com uma pandemia fazendo com que nos recolhêssemos em nossas casas, decidi começar minha trajetória na psicologia clínica, na modalidade que era viável: online. Entre estudos e leituras, passei a receber meus primeiros pacientes em um ambiente nada convencional: a tela do computador. Fui me desafiando, me encontrando (e me perdendo) em análise. Entre escutar e ser escutada, lá estava novamente quem me acompanhou em todos esses anos: a psicanálise. Porém, ao invés de pesquisar sobre a clássica teoria freudiana, passei a estudar Jacques Lacan. Me interessei pelos seus desdobramentos.

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Atualmente, participo de grupos de estudos e núcleos de pesquisa em psicanálise, cultura e literatura, pois acredito que a psicanálise transcende o âmbito profissional, permeando a vida, a cultura e as relações humanas. Busco me aprofundar diariamente na psicanálise, sustentando meu trabalho através do que Freud nomeou como “tripé da formação”, que consiste em manter o equilíbrio entre estudos teóricos, supervisão clínica e análise pessoal. Portanto, estou sempre em busca de espaços de formação que sejam éticos e responsáveis, pois esses são pilares fundamentais na minha clínica.

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Através do meu trabalho com a escuta, percebo constantemente como é importante ter um espaço ético e acolhedor para que os pacientes possam compartilhar suas experiências de vida. É por isso que o meu trabalho não é julgar ações ou dizer o que meus pacientes devem fazer, mas sim, escutá-los e auxiliar para que eles mesmos compreendam por onde faz mais sentido caminhar. Cada pessoa é única portanto não existem respostas que vão servir para todos.

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Concluo esse escrito com uma frase de Rubem Alves que norteia com carinho minhas experiências e meu trabalho até aqui e segue sendo meu norte:

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“O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam “se eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.”

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